04 de Agosto de 2013: O meu manifesto
Recentemente postei aqui a notícia sobre uma proposta parlamentar de incluir as embarcações e aeronaves na cobrança do IPVA, click e veja. O post mereceu vários comentários, contra e a favor, e por isso resolvi escrever o texto abaixo sobre o assunto e que foi publicado na coluna Diário do Avoante, que escrevo semanalmente para o Jornal Tribuna do Norte, tendo como base o livro A Saga do Barcaceiro, do navegador alagoano José Fernando Maya Pedrosa.
Pra
tudo precisa sorte/Até pra andar no mar/Onde as águas balançam/Eu queria
morar/Pra tudo precisa sorte/Até pra navegar. (do cancioneiro das barcaças).
Há três classes de homens, os vivos, os mortos
e os que estão sobre o mar. (Anacasis de Rodes. VI AC).
Chegou à vez do
meu manifesto, mas antes quero navegar pelo mar da sensatez e pela riqueza dos
livros.
No livro A
Saga do Barcaceiro, lançado em 1994, o autor José Fernando Maya Pedrosa faz mais do que uma denúncia, quando diz
que ao iniciar sua pesquisa notou a carência de fontes escritas, porque as
pessoas frequentemente não valorizam o documento para os estudos do passado e
deixam que os elementos da natureza os destruam, quando não o queimam como
papel imprestável. Para o autor: “Os armadores, exportadores e construtores não
guardam quase nada. Os marinheiros, por sua vez, guardam apenas uma ou outra
foto e alguns documentos trabalhistas. E as repartições públicas somente se
sentem obrigadas a preservar documentos de valor administrativos mais recentes”.
O descaso com a história é sem tamanho.
Na busca por
informações, o autor diz ter mergulhado a fundo nas conversas de pé de orelha
com antigos mestres, marinheiros, construtores e armadores, mesmo sabendo da
limitação da tradição oral, porque essas raramente podem ser confirmadas, mas
não imprescindíveis e de grande valor para a reconstrução dos fatos. Muitas
vezes sua busca levava aos caminhos estreitos dos cemitérios apenas para comprovar
que alguns registros estavam guardados para sempre.
José
Fernando cita o livro “A Bahia e seus Saveiros – Uma tradição que desapareceu”,
de Theodor Selling Jr, que concluí assim: “Poucos brasileiros cuidam do estudo
de nossas embarcações regionais, e estrangeiras ainda menos”. O autor de a Saga
do Barcaceiro louva ainda o maior dos mestres da cultura popular Luiz da Câmara
Cascudo escrevendo assim: “Pena não tenha havido um pesquisador tipo Câmara
Cascudo, autor de “Jangadeiros”, editado pelo Ministério da Cultura em 1957,
para registrar a vida barcaceira em seu próprio tempo”.
Senhores,
não usem os seus mandatos para a banalização das propostas ou simplesmente por
acharem que podem legislar por achismo. Precisamos sim de propostas sérias e
que venham melhorar a vida das pessoas. Se querem mesmo socializar o justo,
comecem pelos salários estratosféricos que recebem, igualando-os aos valores
recebidos pela grande maioria da população.
Nelson Mattos Filho/Velejador
Aos Parlamentares que assinaram a proposta sem ao menos conhecer o assunto, sugiro que, além da leitura das excelentes publicações citadas, que façam uma análise sobre os benefícios socioambientais de pequenas embarcações, principalmente veleiros, que com quase nenhum impacto ambiental, ajudam a desenvolver comunidades locais em todo o Brasil, auxiliando na geração de renda local, e evitando bravamente que muitos caiçaras e comerciantes locais sejam empurrados para a miséria nas grandes metrópoles. A náutica de recreio deveria ser estimulada, como acontece em tantos países mais desenvolvidos que enxergam na náutica recreativa um braço importantíssimo do turismo de baixo impacto ambiental, e como força de renda e recursos para as populações locais.
ResponderExcluirThelma, obrigado pela leitura e pelo comentário. A propósito, fantástico o seu comentário, podemos usa-lo neste BLOG e na luta contra o IPVA assinando o texto com seu nome completo? Obrigado!! Fernando
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